Eu não sei bem sobre o que escrever. Estou com diversos temas na cabeça há semanas e não consigo me organizar para escrever. E mesmo que não faltem idéias, se faltar a disciplina não há texto.
Algo que atrapalha também é a questão da obrigação, que parece sempre tirar o prazer. Para me comprometer com o meu prazer e garantir, pelo menos, algumas horas semanais dedicadas a ele, tornei-o um dever. E como qualquer pessoa, eu não fico satisfeita de maneira nenhuma.
O sentimento de realização ao escrever começou a se confundir com o desejo não ter mais uma obrigação, ainda que voluntária. Então, inventei uma doença para mim mesma e não fui trabalhar. Mas como o remorso foi grande e não sou uma boa mentirosa, decidi contar a verdade para mim mesma e escrever sobre isso.
Todos já devem ter ouvido a frase “Escolhe um trabalho que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida”. Não vejo como isso pode ser verdade. Será que fazer todo dia o mesmo trabalho, mesmo que se ame, não é comparável a comer todos os dias a mesma comida?
Será possível um dia alguém ficar satisfeito com o próprio trabalho? Não reclamar do chefe? Não reclamar do salário? Fazer essas coisas é tão inerente à condição humana. Será que estar insatisfeito não é a única forma de melhorar? De buscar novas conquistas? E será que não é justamente esse desejo constante de ter algo que não temos que torna o ser humano tão diferente dos outros animais? Pois se alcançássemos a resignação e o contentamento plenos não teríamos mais pelo o que lutar.
Indo por esse caminho, seria possível dizer que se o homem trabalhasse com algo que ama o tempo todo e nunca se sentisse trabalhando, então ele nunca estaria insatisfeito, logo, esse trabalho o tornaria menos humano?